Árvores, entes sagrados da afro-religiosidade

Baobá: árvore com estreita relação com as religiões de matriz africana, como a Umbanda e oCandomblé, que oferece elementos indispensáveis à vida, como o alimento e a água
Hoje, 21 de setembro, é o dia da árvore. Os adeptos das religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, têm uma relação estreita com o meio ambiente, sobretudo, com a flora, das quais retiram folhas, cascas e flores para banhos, defumadores e limpeza de ambientes. As árvores são envolvidas de mística nos trabalhos espirituais.

Para os caboclos, os pretos-velhos e muitas outras falanges da Umbanda, as plantas têm significados e grande importância em seus trabalhos. Aroeira, mangueira, dendezeiro, cajazeira, jatobá, mamoeiro, gameleira branca (iroco), fumo, acássia-branca, benjoim ... A lista é imensa, sem contar com as ervas, como arruda, guiné, manjericão, alecrim, alfazema, espada-de-ogum, piperegum... Outra infinidade associada aos cultos afros.

Entre tantas espécies, uma delas merece ser homenageada no Dia da Árvore: o baobá, também reconhecido como embondeiro, imbondeiro ou calabaceiras (Adansonia digitata), nativa da ilha de Madagascar, do continente africano (terras bantus) e da Austrália. Em cada lugar, há espécies diferentes de baobás, que estão, singularmente, associados à ancestralidade dentro dos cultos afros.

Nos cultos africanos, o baobá tem forte relação com o sagrado. Embora já soubéssemos dessa ligação, hoje — coincidentemente com o Dia da Árvore — aprendemos mais um pouquinho sobre ela e nada mais justo do que partilhar com todos os irmãos esses ensinamentos. Esse conhecimento nos chegou por meio de um artigo, de autoria de Tata Ngunz'tala, dirigente de Nzo Jiomna dia Nzambi (a Casa dos Filhos/Filhas de Deus).

Ele nos conta, com muita simplicidade, a lenda do Baobá, um dos emblemas nacionais do Senegal. Inicialmente, o baobá teria sido plantado na bacia do Congo. A árvore reclamou da enorme quantidade de água, que encharcava suas raízes e que deixava seu tronco inchado. Então, o criador (Nzambi Mpungu), levou a árvore para as Montanhas da Lua da África Oriental, local que também desagradou o baobá. Aborrecido, o Nzambi levou-a em uma área seca da África e a plantou de cabeça para baixo, deixando suas raízes para o ar.

A longevidade do baobá é um dos elementos que o associa à religiosidade afrodescendente.  Ele consegue viver em torno de 600 anos e pode ultrapassar os 30 metros de altura. Há testes que indicam que ele pode viver por muito mais tempo. As intempéries ou outras adversidades climáticas não conseguem fazê-lo sucumbir facilmente. Assim como ocorre com os cultos africanos, dos quais derivaram a Umbanda e o Candomblé. Mesmo perseguidos, intolerados e alvos de violência e crueldade, os adeptos seguem firmes na sua fé, de forma semelhante à resistência do baobá em terras áridas.

O seu tronco inchado, que pode chegar a 10 metros ou mais, se deve ao acúmulo de água. Dependendo da sua idade, o boabá pode armazenar até 120 mil litros de líquido, o que lhe dá condições de vencer os períodos de longa estiagem. Um fenômeno semelhante ao que ocorre ou inspira umbandistas e candomblecistas, que se preenchem de fé em Oxalá para suportar as adversidades

O baobá oferece aos homens muitos produtos. As folhas podem ser comidas puras ou misturadas a outros alimentos. São usadas como fermento e indicadas para o tratamento de doenças renais, da bexiga, da asma e das picadas de insetos. A casca triturada faz o papel de condimento, assim como a pimenta ou o sal. Da casca ainda são retiradas fibras para a fabricação de cordas, cestos, tecidos, cordas para instrumentos musicais e chapéus à prova d’água. A polpa farinácea que envolve as sementes tem sabor agradável, que serve de alimento. O pólen branco, quando misturado com água, forma uma espécie de cola.

As suas folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lipídios, para além de serem usadas como um poderoso antidiarréico e para combater febres e inflamações. Um pó feito de folhas secas vem sendo utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma, e é usado, ainda, como um tônico.

O seu fruto é denominado múcua. A casca do fruto é utilizada pelas pessoas como tigelas. A polpa e a fibra de seus frutos são capazes de combater a diarréia, a disenteria e o sarampo. O cerne da fruta combate a febre e inflamações no tubo digestivo; as sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas, moídas e consumidas como uma bebida que pode substituir o café. O baobá oferece tudo que é necessário à sobrevivência humana, o que reforça a sua mística em favor da vida.

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