Em maio, saudaremos os pretos-velhos


Chegamos à última semana de abril.  A partir de segunda-feira próxima, entramos em contagem regressiva para a festa de Preto Velho  — Adorê as almas! — uma das mais belas falanges da Umbanda. Ela é traz para mais perto de todos a relação com a nossa ancestralidade, com as tradições de matriz africana, que se traduz pelas diferentes origens dos pretos e preta velhas. Identificamos essas diferenças nos próprios nomes que eles assumem no terreiro: Maria Conga, Pai Benedito de Angola, Pai Guiné, Vovó Cambinda (ou Cambina), Vovó Maria da Bahia... São muitos e não saberíamos precisar — nem sabemos se é possível — quantos existem.
Mas temos convicção de que eles estão nos terreiros de Umbanda, como referência de sabedoria, humildade, serenidade, magia, resignação, amor, caridade. Têm uma capacidade, como poucos de ouvir, e, para muitos, são os psicólogos da espiritualidade que colaboram para que as pessoas consigam superar as próprias dificuldades ou encarar, de forma diferente, as dificuldades da vida. Na segunda-feira (24), recebemos, por WhatsApp — colaboração do médium Luiz —, um belo texto sobre essa magnífica falange. Não poderíamos deixa-lo restrito ao grupo dos Caminheiros. Assim, o compartilhamos com todos os irmãos de fé.

A homenagem aos pretos velhos nos Caminheiros será em 14 de maio, a partir das 19h30. Desde já, antecipamos o nosso convite a todos os amigos e frequentadores da casa para mais um momento de alegria, fé e gratidão à espiritualidade que nos assiste, protege e nos auxilia a trilhar caminhos tranquilos e tortuosos nessa trajetória terrena. O dia consagrado à falange é 13 de maio , data de edição da Lei Áurea, que decretou o fim da escravidão no Brasil.

Os pretos velhos

Na linha de Preto Velho encontramos espíritos que se mostram através do arquétipo da experiência. Aqueles que por tudo passaram e venceram e, portanto, cada palavra trazida por eles nos transmite fé, consolo, pois a partir de sua voz mansa e palavras doces nos ensinam a nos aceitarmos, aceitar o melhor que temos, a aceitar cada erro e acerto como ações necessárias para o nosso aprendizado. Orientam-nos a perceber que tudo na vida passa e podemos tirar o melhor aprendizado de tudo o que vivenciarmos. Que as lágrimas que rolam dos nossos olhos hoje, serão usadas para confortar aqueles que passarem por igual situação no futuro. 

Muitos deles quando encarnados na Terra pertenceram a diversas etnias ou povos africanos que foram trazidos para o Brasil à força. O período escravagista forjou e modelou espíritos fortes, perseverantes, resistentes e exemplares, pois, mesmo não tendo o direito de escolha, ainda assim não se entregaram ao ódio puro.

É certo que muitos, após muito tempo do desencarne, ainda vibravam num certo ressentimento contra os senhores de outrora. Mas na grande maioria, prevaleceu a nobreza dos espíritos que cresceram e evoluíram com sofrimento. Foi essa nobreza, essa capacidade de perdoar seus algozes que distinguiu os espíritos de ex escravos e proporcionou-lhes um lugar de destaque na nascente religião umbandista. 
Figura dos velhos “feiticeiros” conhecedores de rezas e de encantamentos poderosos, capazes de realizar milagres, foi o arquétipo ideal para atrair para a religião nascente milhares desses espíritos.

Espíritos amadurecidos no tempo e na vida do plano material, assumiram o grau de Pretos Velhos e mais que qualquer outra ação antirracista, a Umbanda com seus Pretos Velhos despertou o respeito e o amor pelos espíritos dos ex-escravos e, no lado material, irmanou no terreiro, brancos, negros e mestiços, todos incorporando seus Pretos e Pretas Velhas, sempre alegres, risonhos, amorosos e pacientes com seus “filhos” encarnados.

Apresentam-se dentro dos terreiros de forma encurvada, sentadinhos em um banquinho, pitando seu cachimbo, tomando café sem açúcar, algumas vezes tomando um vinhozinho.  A apresentação de um preto velho não quer dizer que aquele espírito tenha necessariamente sido um escravo brasileiro, como podemos pensar. Devemos sim, acreditar que esta é a linguagem apropriada para enfocar determinadas questões que requeiram atributos como sabedoria, caridade, paciência, perseverança e humildade.

A questão mais debatida é por que precisariam de cigarros de palha, cachimbos e bebidas alcoólicas? É simples e até primitivo o pensamento preconceituoso de que são drogas. Vamos pensar em termos de Elementos da Natureza. O cigarro de palha, ou cachimbo fazem uma fumaça, evocando o Elemento Ar e funcionam como um defumador, elevando para o alto as energias não necessárias ao consulente. Além disso, ao olharmos a fumaça dançando em nossa frente, faz com que possamos desligar um pouco o intelecto, algo parecido com um estado de meditação, chamando nosso hemisfério cerebral direito a sentir o momento e ouvir com “ouvidos” sensíveis a sabedoria que estamos tendo acesso. Estamos em um momento Sagrado.

Ainda com relação ao fumo, corresponde ao Elemento Terra. É importante ressaltar que não cabe aqui entrar no mérito da qualidade do fumo, já que estamos falando sobre símbolos e formas de acessar uma oitava superior através dessas entidades. Enquanto dão baforadas nas pessoas, o que eles estão fazendo é um trabalho de defumação, o equivalente a um passe magnético. Podemos notar que ao lado deles, costuma-se ver uma caixinha onde cospem as toxinas físicas, bem como as presentes no ectoplasma a fim de preservar o corpo físico do médium, bem como os corpos sutis.

Quanto à bebida alcoólica funciona como antisséptico, limpando e cuidando do corpo etéreo do consulente. Além disso, com relação ao corpo do médium que “recebe” a entidade, pode ser benéfico, já que as quantidades ingeridas são pequenas, e ajuda a afastar o intelecto do indivíduo, relaxando-o no momento e ao voltarem a si, podem fazê-lo com mais facilidade, pois os elementos físicos ingeridos remetem a uma forma de aterramento.

É bom lembrar que a bebida alcoólica é extremamente volátil e combustível, assim sendo atinge diretamente o que chamamos de períspirito, fazendo ali uma assepsia, levando através do suor do médium toxinas encontradas no consulente. Além disso, o calor da bebida e sua qualidade combustível correspondem ao Elemento Fogo, que queima as energias intrusas e miasmas que acaso estejam presentes.

Os pretos velhos costumam magnetizar a bebida, dando ao consulente pequenos goles para realizar seus trabalhos de cura.  É o pai protetor, que conhece como ninguém uma “mandinguinha” para curar os males do espírito. É o arquétipo do velho sábio por excelência. Orientando e ensinado os reais valores da vida de uma forma simples, despertaram a humildade no coração de muita gente. Humildade e caridade são as características mais marcantes desses espíritos redentores.


A partir da sabedoria manifestada por eles, nossos amados vovôs e vovós nos aconselham, nos fazem refletir sobre como termos um caminhar mais leve, a caminhar longe dos espinhos, termos o discernimento de apenas concentrarmos a nossa energia nas coisas que valem a pena, a aceitarmos o melhor que cada pessoa e cada situação pode nos oferecer, não para nos acomodarmos, mas para que tenhamos o melhor aprendizado daquilo que precisamos passar naquele momento.


Para saber mais: http://oscaminheiros.blogspot.com.br/p/pretos-velhos.html

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